top of page
Foto do escritorGPEA

A questão ambiental e suas relações com a indústria da moda na Índia

Atualizado: 9 de set. de 2021



© Imagem: Reprodução/CASACOR | https://casacor.abril.com.br/


Escrito por: Daiany Braz da Silva¹, Simone Zhang² e Yasmin Rossi³.


A crise ambiental contemporânea é resultado de décadas de agressão capitalista ao meio ambiente. A dificuldade de perceber onde se encontram as fontes dessa agressão e a extensão de suas implicações são os principais obstáculos para a consciência coletiva sobre os problemas ambientais e sua gravidade. Todavia, o obstáculo do sistema capitalista é se deparar com os limites ambientais que o dificultam (mas não impedem) de realizar as duas maiores ações causadoras de impasses no meio ambiente: produzir e consumir. Dessa forma, instiga-se a reconhecer uma área que contribui anualmente para a degradação do ecossistema: a indústria da moda.


Nos dias que correm, tendo a terceira maior indústria que conhecemos, a moda impulsiona e produz incontáveis comportamentos agressivos ao meio ambiente e pouco se fala dos danos causados. Os impactos ambientais da indústria têxtil devem ser considerados em todos os processos de produção; desde a obtenção de matéria-prima até o consumo e o descarte do vestuário. Além de poluir os solos por meio de uma agricultura agressiva, a indústria têxtil acaba por contaminar também o ar e as águas devido ao descarte fabril impróprio.


Ademais, a água é o principal recurso natural utilizado e explorado pela indústria têxtil, estando presente na irrigação de plantações de algodão, nas lavagens, no alvejamento, no tingimento, na estampagem e secagem. O processo que demanda o maior uso de água nessa indústria é o cultivo de algodão, sendo responsável por 80% do consumo total de fabricação e emitindo 45% de gases causadores do efeito estufa. Além do grande volume de água que é utilizado nos processos da cadeia têxtil, durante as etapas de lavagem e alvejamento, os corantes e outras substâncias químicas descartadas em rios e riachos, acabam contaminando plantas e outros organismos aquáticos locais. (DIAS, 2020)


A Índia, sendo um país reconhecido por sua indústria têxtil, é cenário referência para a identificação de impasses ambientais causados pela fabricação de vestimentas. Contando com plantações de algodão, diversas indústrias de tingimento, fábricas de produção, confecção e tecelagem, a produção têxtil indiana depende fortemente da produção nacional. Sendo uma de suas maiores indústrias, consequentemente, é também uma das atividades mais poluidoras do país. Cabe nessa discussão notar que existem empresas responsáveis por essas atividades que muitas vezes passam despercebidas e se escondem atrás de falsas propagandas de sustentabilidade.


Um ponto muito relevante e ainda pouco comentado dentro do impacto negativo da indústria da moda no meio ambiente, é em relação a exploração de recursos naturais em países de terceiro mundo como a Índia. Essa exploração traz problemas socioambientais a todo o mundo, incluindo o alto consumo de água e a degradação do solo nas plantações de algodão, a indústria também prejudica a saúde e condição de vida dos trabalhadores deste ramo e moradores locais.


A indústria da moda tende a ser a segunda maior consumidora de água no mundo. Segundo a Global Fashion Agenda, cerca de 1,5 trilhão de litros de água são usados por ano nas confecções de roupas; um número muito elevado se considerarmos que a água potável já está apresentando níveis de escassez em países como Índia e a China, por exemplo. Mesmo que a água seja considerada um recurso renovável, a sua capacidade de renovação pode ser comprometida com o alto consumo e mudanças climáticas.


Uma maneira de gerar menos prejuízos no consumo de água, seria a reutilização de roupas para a produção de novas. Porém, apenas 1% das peças são reaproveitadas de acordo com a Fundação Ellen McArthur. Outro grande problema ambiental e social causado pela indústria da moda ocorre devido a produção de algodão - uma das principais matérias primas para produção de roupas.


As plantações de algodão utilizam de muitos defensivos agrícolas, sendo que 6% de todo o pesticida e 16% de todo o inseticida do mundo é utilizado na produção do algodão, Segundo o Pesticide Action Network UK. Devido a alta demanda e a alta produtividade, este é o mecanismo que utilizam para manter os resultados.


Com o alto uso de defensivos agrícolas, a contaminação e a degradação do solo e dos lençóis freáticos se agrava. Sendo a Índia o país que mais produz algodão no mundo segundo o United States of Agriculture Foreign Agricultural Servic, o país e sua população acabam sendo os que mais sofrem com estes males. Muitos trabalhadores agrícolas de algodão acabam se contaminando e morrendo devido ao contágio e boa parte da água disponível que não foi usada na produção das roupas acaba por ser também contaminada.


Uma das práticas que muitas empresas adotaram, devido a uma maior preocupação de uma parcela dos consumidores com o meio ambiente, é o greenwashing. O termo traduzido para o português literal seria algo como "lavagem verde" e, apesar de aparecer mais comumente nos dias atuais, o fenômeno não é contemporâneo. Na década de 80, algumas empresas já apresentavam propagandas com maior teor de sustentabilidade, porém a prática, assim como no presente, não representou necessariamente uma mudança como uma maior responsabilidade ambiental na produção pelas empresas. Dessa forma, o greenwashing, nada mais é que propagandas enganosas, as quais dão falsas impressões de que o produto está inserido em um processo de fabricação ecologicamente correto.


Apesar de ter se tornado uma prática recorrente nas grandes empresas de vestuário, na Índia as propagandas verdes, como também são conhecidas, ainda são incipientes, e isto se deve principalmente a falta de uma regulamentação para uma produção sustentável, com leis rigorosas voltadas para a preservação do meio ambiente, e muito menos há uma regulamentação com diretrizes para publicidades voltadas à sustentabilidade. Deste modo, a falta de uma regulamentação incentiva ainda mais o greenwashing e como não há normas, as propagandas com alegações ambientais tendem a serem rasas e enganosas e levam à falsa impressão do consumo consciente, pois o consumidor estará adquirindo o produto na crença de que é sustentável.


Como também não há um órgão fiscalizador com o papel de verificar se de fato as alegações ambientais são verdadeiras, esta prática está cada vez mais presente, gerando uma série de consequências. Uma delas seria que, ao utilizar-se de publicidade verde mesmo que enganosa, a empresa atrai o consumidor que está seriamente comprometido em ter um consumo mais sustentável - logo, ele reduz a necessidade de distinguir a organização por meio da sustentabilidade. Além de que a empresa, que já não se importa seriamente com os impactos ambientais de sua produção, perde ainda mais o incentivo na busca de práticas ecologicamente corretas, pois não há fiscalização e o greenwashing é ferramenta eficiente que engana os consumidores e faz lucrar ainda mais.


¹Estudante do 3° ano de Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Franca (daiany.braz@unesp.br)


²Estudante do 2° ano de Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Franca (simone.zhang@unesp.br).


³Estudante do 3° ano de Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Franca (yasmin.rossi@unesp.br).

REFERÊNCIAS


BERLIM, Lilyan. Moda e sustentabilidade: uma reflexão necessária. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2012.

CHAVAN, R. B. Indian textile industry-environmental issues. Indian Journal of Fibre & Textile Research Vol. 16. NISCAIR-CSIR, India, 2001.

DIAS, Gabriela de Morais. Os objetivos de desenvolvimento sustentável instituídos pela ONU e a tributação ambiental na indústria têxtil. Monografia (Graduação em Direito) - Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais, Centro Universitário de Brasília, Brasília, 2020.

48 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page