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Escrito por: Daiany Braz da Silva¹, Simone Zhang² e Yasmin Rossi³.
A partir de 1908, imigrantes japoneses apontaram o Brasil como país de destino, iniciando o que viria a se tornar anos de mudanças de identidade nacional e manifestação de preconceito antinipônico. A vinda desses imigrantes para o Brasil foi considerada para auxiliar na realização do interesse dos dois países, para amparar a mão-de-obra cafeeira brasileira e aliviar as tensões sociais de japoneses em outros países em que tentaram se fixar. Todavia, essas questões raciais e de eugenia (sobretudo derivadas de discussões europeias) viriam a influenciar também o cenário brasileiro.
Antes mesmo das primeiras imigrações japonesas para o Brasil, já existia uma discussão acerca da ameaça e perigo do desconhecido que evoluiu com as décadas até se tornar o que hoje pode ser conhecido como discurso antinipônico. O estabelecimento de imigrantes amarelos em terras brasileiras era visto como pejorativo para aqueles que se baseavam nas teorias de “branqueamento” da Europa do século XIX, onde apenas imigrantes brancos seriam capazes de trazer desenvolvimento e modernidade para o país. Esse “perigo amarelo” causaria uma “degradação racial”, onde acreditavam que esses imigrantes japoneses dominariam a raça branca devido à estratégia expansionista-político-militar japonesa.
Essa imigração seria interrompida com o decorrer da Segunda Guerra Mundial, visto que os países cortaram relações diplomáticas em um cenário onde o Brasil se posicionaria contra o Japão em 1941. Durante os anos de guerra, os imigrantes japoneses e seus descendentes eram também vistos como inimigos e juntamente com esse estranhamento, a intolerância racial e a desumanização dos indivíduos se potencializaram. É perceptível como os conflitos derivados da imigração japonesa no Brasil e as tensões vividas nas comunidades no pós-guerra passaram a estar presentes tanto no âmbito público e institucionalizado como também no cotidiano e na vida privada desses imigrantes.
No Brasil, a comunidade japonesa possui grande presença dentro da sociedade, no entanto, apesar de serem reconhecidos como "inteligentes, bem-sucedidos e ricos", e segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), os descendentes de japoneses possuem um salário melhor no mercado de trabalho brasileiro em comparação aos próprios brasileiros com sobrenome ibérico.
Deste modo, a junção dessa crença popular e o resultado dessa pesquisa resulta a base do preconceito amarelo que é a invisibilidade. Isto é, a existência do asiático, especificamente o japonês fica restrito a essas associações, ele convive de forma pacífica na sociedade, mas de certo modo não é devidamente integrado na sociedade.
Logo, na primeira problemática que pode envolver diretamente ou indiretamente os asiáticos, essa falta de integração não só se torna evidente mas também motivo para diversas ofensas. A pandemia da COVID-19 expôs a fragilidade das relações entre povos asiáticos e ocidentais, devido ao primeiro caso ter surgido em Wuhan, na China, e, logo depois se alastrado para o resto do mundo, os imigrantes asiáticos tornarem os principais alvos de violência verbal e física, possuindo seu ápice nos Estados Unidos, mas casos pipocarem em vários países, inclusive no Brasil.
A disseminação de fake news acerca da origem do vírus contribuiu para a ideia, sem fundamentos, de que os asiáticos eram os responsáveis pela existência do vírus, de forma que aumentou ainda mais os ataques preconceituosos contra japoneses, chineses e coreanos. E, como resposta a esses ataques, surgiu um movimento anti-violência asiática: Stop Asian Hate, a qual é a principal manifestação contra o preconceito amarelo, principalmente aqueles que envolvem a pandemia da COVID-19. Apesar de o preconceito não ser atual, já que antes era predominantemente marcado por apelidos pejorativos, comentários maldosos, além da generalização de todas as etnias asiáticas, no cenário atual a violência física se tornou presente.
Desta forma a pandemia trouxe, de forma infeliz, a necessidade de se falar sobre o preconceito amarelo, a importância de ser discutido e combatido. Em uma era em que a internet e as redes sociais são recheadas de discursos de ódio e xenofobia, estes casos, muitas vezes, são passados despercebidos, apesar de serem recorrentes.
O preconceito amarelo é um tema pouco discutido no Brasil, e, por isso, seu debate se faz ainda mais necessário, por se tratar de pessoas que se sentem apagada aos demais. O cineasta Hugo Katsuo comenta a respeito do “mito das três raças”, que no Brasil é constituído por brancos, negros e indígenas, e com isso há o apagamento de pessoas com aparência asiática “Isso provoca o apagamento e exclusão simbólica”, os deixando sem representação considerável na sociedade brasileira, como se não fizesse parte dela e fossem em muitos casos considerados estrangeiros no seu próprio país.
Segundo o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), de 2017, as pessoas de aparência asiática não tem os mesmos problemas com empregos, como a população negra, porém isso demonstra outro mito o da “minoria modelo”, que muitos os veem como inteligentes, trabalhadores, por exemplo, estereótipos que engloba diversas pessoas e suas particularidades, e as cobram de maneira igual.
Recentemente nas Olimpíadas 2020 em Tóquio, ocorreram diversos casos de preconceito e xenofobia contra japoneses e seus descendentes, torcedores brasileiros não concordaram com a nota dada ao surfista Gabriel Medina na semifinal do surfe perante o japonês Kanoa Igarashi, pois, segundo eles, o brasileiro tinha tirado uma nota baixa injustamente.
A eliminação do surfista brasileiro na Olimpíada, tomou as redes sociais e, com isso, inúmeros comentários de racismo e xenofobia contra japoneses puderam ser vistos após a eliminação. Para se ter uma noção os termos "Hiroshima" e "Nagasaki" chegaram a ficar entre os trending topics do Twitter Brasil, onde o bombardeio atômico contra o Japão na Segunda Guerra Mundial, foi utilizado para ofender e desejar o mal a todos aqueles de aparência asiática, o episódio só demonstra mais um pouco da intolerância vivida diariamente por essas pessoas.
¹Estudante do 3° ano de Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Franca (daiany.braz@unesp.br)
²Estudante do 2° ano de Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Franca (simone.zhang@unesp.br).
³Estudante do 3° ano de Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Franca (yasmin.rossi@unesp.br).
REFERÊNCIAS
UENO, Luana. M. M. O duplo perigo amarelo: o discurso antinipônico no Brasil (1908-1934). Estudos Japoneses, [S. l.], n. 41, p. 101-115, 2019. DOI: 10.11606/issn.2447-7125.v0i41p101-115. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ej/article/view/170435.
VALLE,Leonardo. Pandemia de covid-19 intensificou preconceito contra descendentes de asiáticos amarelos.Instituto Claro,2021.Disponível em:<https://www.institutoclaro.org.br/cidadania/nossasnovidades/reportagens/pandemia-de-covid-19-intensificou-preconceito-contra-descendentes-de-asiaticos-amarelos/>. Acesso em: 2 de setembro de 2021.
ITO, Carol. Trabalhador, inteligente, bom em exatas. Dócil, submissa, exótica. Os clichês sobre os asiáticos são muitos, mas os nipo-brasileiros têm rompido o silêncio e colocado em xeque as generalizações.Revista Trip,2020.Disponível em:< https://revistatrip.uol.com.br/trip/meu-nome-nao-e-japa-o-preconceito-amarelo>. Acesso em 2 de setembro de 2021.
DIAZ,Lucas. Preconceito amarelo: o que é e por que aumenta durante os vestibulares.Guia do Estudante,2021.Disponível em:https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/preconceito-amarelo-o-que-e-e-por-que-aumenta-durante-os-vestibulares/.Acesso em 4 de setembro de 2021.
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